O mito do Product Manager F*da

Laisa Carvalho
5 min readJan 3, 2020

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Um breve resumo sobre mim antes do tema:

Em 2020 resolvi voltar a escrever…

Há alguns anos eu tinha um blog e parei de escrever e nem sei o motivo…

O blog ainda existe! Hahaha https://lalaminely.blogspot.com/

Não ria! Eu era uma “xovem” recém formada em letras começando meu singelo bloguénho . Voltarei este ano falando sobre produtos, tudo que vi e vivi nos últimos anos.

Quando na primeira formação de Letras (sim! minha primeira formação foi letras pois eu acreditava, e ainda acredito, que poderia contribuir para melhorar o mundo com meu trabalho) lecionando em escolas próximas das favelas nas divisas de SP com Santo André. O que eu não sabia é que ser professor no Brasil não era nada fácil, não pagava as minhas contas e ainda renderam problemas de segurança nas escolas onde eu lecionei (mas isso é tema para outro artigo…)

Trampava CLT de dia e lecionava à noite. Fiquei maluca de tanto trabalhar e eu escolhi exonerar do estado (fui concursada…) e permanecer na área de tecnologia onde já estava trabalhando. Então segui com cursos e pós graduações dentro da área e cá estou até hoje.

Fui atendente de suporte técnico, implantadora de sistemas, analista de sistemas (um pouco de programação), analista de negócios, gerente de tecnologia, product owner até descobrir que queria ser Product Manager mesmo.

A área de produtos não era madura há uns 10 anos atrás, estava beeem longe disso...

A maioria dos PM’s mais antigos que conheço também viram e viveram coisas como:

  • A transformação do cascata pro ágil (seja só no uso dos frameworks ou do mindset mesmo)
  • O gerenciamento de projetos sendo a base mais chata de comando e controle de todas as entregas
  • A “era do planejamento estratégico” para a explosão das Startups como se o empreendedorismo fosse resolver todo desemprego do mundo
  • O Scrum visto como bala de prata por várias empresas
  • As empresas de Puffs roxos, postit’s coloridos e culturas duvidosas
  • A explosão de Frameworks ágeis e a indústria de certificados

Agora recentemente temos visto um novo “fenômeno chamado PM FODA”, que é bem parecido com o mito do colaborador salvador da pátria (que sempre existiu nas empresas mas que não vi salvar nada até agora).

Vejo algumas premissas que jogam na terra o mito do PM FODA:

O PM não entrega nada sozinho

O PM é apenas um dos membros do time, tão importante quando os desenvolvedores, designers, fronts, agiles coach’s, cientista de dados, Ux, reseachers ou qqr outro membro que faça parte da entrega.

Não existe “uma figura dona das ideias maravilhosonas” que vai chegar arrebentando na área de produtos e todos vão dizer: “Nofa! como ele é foda…”

O que existe é orquestração, vontade de fazer produtos para dores reais do mercado e das pessoas, validando as hipóteses levantadas por um time multidisciplinar que faz acontecer quando se coloca a devida responsabilidade, sob a nuvem de um propósito único e inspirador alinhado com as pessoas de dentro deste time e com os objetivos da empresa, num local onde há liberdade para a Squad fazer o que sabe fazer.

O PM vai errar muitas vezes (que bom!)

Um PM de verdade deveria saber que não é o dono da verdade e que construir produtos é uma ciência inexata, e ainda que tenhamos diversas técnicas para fazer produtos cada vez melhores (estou falando de pesquisas de research, UX e novas tecnologias), as coisas mudam o tempo todo (economia, o próprio mercado, concorrência, técnicas, tecnologias, comportamentos, públicos A/B/C).

É importante que a empresa tenha ciência que o time pode errar de forma rápida, pra descobrir o que não fazer, ou até mesmo trilhar um caminho de mudar o modelo de negócio de um produto já existente.

Particularmente eu prefiro lançar algo (ainda que um MVP) e descobrir logo que ele não serve, do que não lançar nada porque não temos certeza se vai dar certo. Só não erra quem não faz nada…

O PM aprende com o time constantemente

Sabemos que alguns PM’s tem muito mais experiência do que outros sobre o que fazer e o que não fazer, devido as suas trajetórias profissionais.

No Product Camp de 2018 eu ouvi algo muito interessante: Todo PM tem um “super poder”. Mas o quê isso significa?

Significa que sempre há um histórico profissional que nos rendeu aprendizados e entre um PM e outro estes aprendizados são diferentes entre si.

Alguns são mais habilidosos no delivery outros em discovery, outros eram designers e migraram de área, também há os ex-programadores que foram para produtos, mas já conheci alguns PM’s que são bons só em teorias e não entregam nada.

Sempre haverá algo para aprender, pois sempre há conhecimentos novos e um time é feito de pessoas com habilidades e conhecimentos diferentes. Esta é a magia de se construir produtos juntos, de pessoas e para as pessoas.

Se o PM se acha “fodão” e não tem nada mais a aprender então aposente-se.

O PM é um ser dotado de opiniões, sonhos e propósitos pessoais. Não um robô entregador!

Esta é a parte que normalmente a “giripoca pia”.

Acredito que, por definição, o PM escolhe a profissão por saber que é uma forma de melhorar o mundo com o seu trabalho e produtos, de uma maneira multidisciplinar, objetiva e real.

É maravilhoso e inspirador saber que por exemplo o Uber trouxe oportunidades de trabalho pra muita gente que ficou desempregada, ou que o Gympass pode diminuir o sedentarismo e muitas vezes devolver a saúde às pessoas, ou que o Picpay pode mudar a forma como nos relacionamos com o dinheiro, ou que o Nubank pode devolver às pessoas a autonomia sobre suas finanças, a Yellow muda a forma como nos locomovemos nas cidades, o Quintoandar dá autonomia a quem precisa mudar rapidamente, ou como a Youse desburocratizou a contratação de seguros…

É disso que estou falando… É isso que toca (ou deveria tocar) o coração de um PM, entende?!

Quando a empresa tem objetivos que não se encontram mais com os propósitos pessoais do PM, em algum momento esta relação vai acabar e nenhum PM foda vai ser produtivo.

Conheço gente que tinha tantos propósitos pessoais alinhados com os das empresas por onde passei, mas não tiveram oportunidades para mostra-los, porque a empresa resolveu contratar o tal “PM foda de mercado”.

Empresas precisam cumprir objetivos e não são instituições de caridade, tem que lucrar sim! Mas não acima das necessidades dos usuários, ou da ética dos mercados, ou de entregar produtos que olhem para necessidades especiais das pessoas com alguma deficiência, ou de contribuir para o meio ambiente por exemplo.

Estamos todos no mesmo rio dos produtos, porém em margens diferentes de aprendizado.

Não existe PM foda. O que existe é gente tentando, acertando e errando o tempo todo. Dá pra ser correto, produtivo, gerar lucro pra empresa e continuar ainda sendo gente!

Até o próximo artigo

Alfinete Dourado

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Laisa Carvalho
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Written by Laisa Carvalho

Product Manager living UK — I like Rock’n Roll, cheese, wine, bad jokes and change my world builting products of people for people;